segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Museu Rafael Bordalo Pinheiro



Há já uns tempos que queria ver o Museu Bordalo Pinheiro, nunca o tinha visitado e em Outubro fui até lá. Gostei imenso, é pequeno, simples, respira-se bem e ha uma luz bonita. Comecei pela sala da biblioteca, depois pela projecção sobre a vida e trabalho de Bordalo Pinheiro. Passei à sala das cerâmicas onde me apaixonei pelo bule policia inglês e por fim subi ao primeiro andar para ver o trabalho gráfico. O pior ponto deste museu é o barulho que se ouve da estrada mesmo ao lado das janelas e que dificulta a percepção do documentário na sala de projecção. Bordalo Pinheiro, criador de personagens, foi ele próprio uma, mas também uma grande personalidade, capaz de caricaturar a sociedade e o pais. Muitas pessoas não saberão que foi ele que deu vida ao Zé Povinho ou a Maria Paciência.




Depois da casa Bordalo, que apesar de pequena requer tempo para ver, ler e ouvir atravessei o pátio pequeno e visitei a exposição das caricaturas de Antonio que foram feitas para a estaçao de metro do aeroporto. E uma estação que não conheço, mas a exposição deixou-me com vontade de ir até. Na loja comprei duas peças Bordalo Pinheiro e deixei-me à conversa com o senhor que me atendeu. Fiquei a saber que este museu me fará voltar mais vezes porque os trabalhos expostos não são sempre os mesmos. O Museu Bordalo Pinheiro escolheu não mostrar tudo de uma vez, mas mostrar pouca coisa e desta forma valorizar a colecção. Acho que é uma óptima ideia! Pessoalmente, não gosto de museus cheios de coisas amontoadas e, para além disso, outro aspecto que acho muito positivo é poder criar-se uma dinâmica que nos faz voltar lá mais vezes e não ficarmos com o Bordalo Pinheiro na nossa lista de museus portugueses que só visitamos uma vez na vida.


Museu Bordalo Pinheiro
Campo Grande, 245
Entrada: 1.50€
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segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Cuerpos de Dolor" - Museu Nacional de Arte Antiga

Hesitei muito em escrever sobre esta exposição. Não sou especialista em arte barroca nem nada que se pareça, e ainda por cima, vi a exposição com o Manuel ao colo e não li quase  nenhuma legenda nem nenhum texto de sala. Mas, como se diz na apresentação deste blogue, “relatos não académicos” não é?
O que me levou à visita foi, em grande parte, a forma como a exposição foi divulgada: gosto muito do título e acho que cola perfeitamente à escultura da época. Claro que sou de história da arte e, apesar de ligar muito mais à arte contemporânea, gosto muito da teatralidade barroca. Por isso fui. Quer dizer, por fomos em família e levámos os meus sogros que não são de Lisboa e que nunca tinham ido a Arte Antiga.
O facto de não se poder tirar fotografias é um dos pontos negativos da exposição que, consequentemente, torna também este relato menos rico. Confesso: a exposição é linda e as peças são de uma enorme qualidade: estão bem iluminadas e contrastam em perfeição com a tonalidade negra da parede. É claro que estas esculturas não foram feitas para serem vistas assim: elas deveriam estar rodeadas de talha dourada em conjuntos onde provavelmente passariam mais despercebidas. Por isso, acho que a montagem da exposição as favorece imenso e eu, pessoalmente, gostei muito, pelo que tenho pena de não poder mostrar o que vi com algumas das fotografias que poderia ter tirado.
Na altura em que fomos estava a decorrer uma visita orientada que verifiquei, com agrado, estar bastante preenchida, mesmo sendo um soalheiro Domingo à tarde.
O Manuel (2 anos) ficou impressionado com o tamanho de algumas esculturas e eu cada vez acredito mais que os pais são os melhores educadores de Museu: reparámos se as esculturas estavam tristes ou alegres (algumas tinham “dói-dói” e estavam, claro, com um ar bastante sofredor), imitámos algumas e ele gostou muito de reparar que os evangelistas tinham todos livros e animais!
Depois, completámos a visita com um lanche no jardim e umas corridas atrás de uns pombos que lá andavam.
Como o bilhete é 5€ para exposição e museu, vale a pena ir com tempo para ver tudo.
Acaba já a 15 de Abril. Mais informações aqui

Marta Guerreiro

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ILUSTRARTE

Sempre quis ir à Ilustrarte mas, por variadas razões, deixava sempre escapar o prazo. Este ano, quando ouvi que os desenhos estavam dentro de gavetas que os visitantes teriam de abrir para ver, pensei que era mesmo imperdível. Para já porque implica uma acção da parte do visitante, que normalmente se julga passivo – pelo menos fisicamente –, para ver o que quer ver (sem ser esta nova moda dos “touch screen” e outros que tais). Depois, porque realmente existem gavetas em todos os museus (geralmente nas reservas) que protegem os desenhos, tecidos ou outros da luz (que pode causar danos irreversíveis). Daí que as gavetas me pareceram uma óptima ideia!!

E fui! O Museu da Electricidade é bastante informal no acolhimento, é gratuito e tem a fabulosa vantagem de ter uns cacifos no qual podemos deixar toda a traquitana de modo a podermos entrar de alma mais leve no museu. Desta vez ia mesmo só ver a Ilustrarte pelo que entrei directamente para o primeiro andar e fiquei logo impressionada: o espaço amplo e luminoso é, de facto, uma grande vantagem.
O Manuel (2 anos) quis correr para os livros que dispõem de forma muito original e descobriu livros repetidos lá de casa: o homenageado desta edição é António Torrado, quanto a mim o melhor escritor de histórias infantis (?) vivo.

Depois fomos espreitar as gavetas. Que giro! Para já a exposição fica mesmo bonita com os móveis e os grandes candeeiros que fazem lembrar postos individuais de leitura ou… mesas de cabeceira, claro! O sítio onde todos os leitores têm livros!
Bem, com o bebé ao colo revelou-se depois um pouco cansativo estar a abrir todas as gavetas, mas o esforço valeu bem a pena! Há ilustrações lindas! E estão presentes ilustradores portugueses: Bernardo Carvalho, André da Loba, André Letria e a dupla Daniel Lima e Cátia Serrão
Paralelamente decorre a retrospectiva do pintor e ilustrador Martin Jarrie, cuja obra vale a pena conhecer.

Acho que é imperdível para toda a gente, mas destaco grupos-alvo: crianças com mais de 6 anos, artistas e leitores de livros com imagens.  Quanto a mim, considero que a ilustração é uma arte que se pode elevar ao nível de qualquer outra (pintura, escultura, instalação, etc).
Ah, e outros pontos positivos: poder folhear os livros e poder desenhar.
Quem quiser ir pode aproveitar para levar pic-nic, comer qualquer coisa na relva e depois dar uma caminhada à beira Tejo! Tudo gratuito!
"Que um ilustrador ame a pintura, não é de admirar.
Mas quando esse amor se transforma em paixão, o ilustrador transforma-se em pintor... e tudo pode acontecer.
O que era realista, hiper-realista, passa a ser pessoal.
Os colossos tornam-se maquinais.
Os animais, espantosos.
Os alfabetos, fabulosos.
As cozinhas, grandes como jardins.
E os Jacintos e as Rosas exalam perfumes, como só as flores pintadas com paixão o podem fazer!"
Ju Godinho e Eduardo Filipe (comissários da Ilustrarte)

Marta Guerreiro

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Para servir de inspiração

“There is no right or wrong way to visit a museum. The most important rule you should keep in mind as you go through the front door is to follow your own instincts. Be prepared to find what excites you, to enjoy what delights your heart and mind, perhaps to have esthetic experiences you will never forget. You have a feast in store for you and you should make the most of it. Stay as long or as short a time as you will, but do your best at all times to let the work of art speak directly to you with a minimum of interference or distraction.” (David Finn, How to visit a Museum, New York, Abrams, 1985)

... e a fotografia, de uma exposição no MoMA em 1939, retirada de: STANISZEWSKI, Mary Anne, The Power of Display, A History of Exhibition Installations at the Museum of Modern Art, The Mit Press, Cambridge, Mass.; London, England, 1998


sábado, 28 de janeiro de 2012

Barcelona

22.12.2010

Anteontem visitei uma exposição temporária no Arquivo da Coroa de Aragão: Francisco de Bórgia - Vice-Rei da Catalunha. 1539-1543.
Exposição muito bem montada, considerando a relativa exiguidade do espaço. Tirei uma fotos sem flash - assim como quem não quer a coisa.
Personagem muito interessante, que não conhecia, com ramificações a Portugal por via do matrimónio.
Ontem fui directo ao MUHBA - Museu de História de Barcelona.
O núcleo permanente baseia-se na intervenção e musealização do conjunto monumental Plaça del Rei, com particular incidência nos vestígios arqueológicos que datam da Pré-História à Idade-Média.
O museu está presentemente com uma exposição temporária extraordinária: Ja tenim 600! - La represa sense democràcia. Barcelona, 1947-1973.
Trata-se de um exemplo paradigmático de como, a propósito da aquisição de uma peça para o seu acervo - no caso, um automóvel Seat 600 - um museu pode efectuar um magnífico trabalho de investigação.
A exposição debruça-se sobre o movimento operário, o associativismo de bairro e outros modos de luta, visando sacudir a opressão dictatorial de Franco e atingir uma cada vez maior autonomia da Catalunha face ao governo central espanhol. Aborda-se igualmente o modo como algumas intervenções urbanísticas, a construção da fábrica da SEAT (cuja sigla, já agora, significa Sociedad Española de Automóviles de Turismo), e a realização de um Concílio Ecuménico Universal [?] em Barcelona durante o período cronológico em análise, pretenderam minorar a oposição social ao regime.
Uma vez mais: Muito bom!!!
De saída visitei a a exposição virtual montada no pátio do Museu Frederic Marès.

Uma boa solução a seguir quando se tem o edifício em remodelação e, portanto, encerrado ao público.
Após uma pequena pausa enchi-me de coragem e fiz-me ao Museu Picasso. Caminhei cheio de hesitações. Acontece-me quando sei antecipadamente que me dirigo para algo que me vai esmagar.
Eu e o Museu Picasso de Barcelona tinhamos uma relação idêntica à que tenho com os Açores: fica para amanhã!...
Chegando à entrada desvaneceram-se as hesitações. O museu apresentava como exposição temporária Picasso davant Degas. Deus me livre de perder as bailarinas e as prostitutas de Degas.
A exposição não se consegue descrever em poucas linhas, pelo que me vou abster de o fazer. Destaco apenas que, se dúvidas existissem sobre o facto de Picasso ter seguido ostensivamente a obra de Degas como inspiração e modelo para uma grande parte dos seus trabalhos, elas ficam completamente desfeitas pelo tête-à-tête entre obras de arte que esta exposição nos dá a fruir. Aliás, as palavras de Picasso com que os comissários abrem a exposição são claras: Si hay algo que se pueda robar, lo robo!
Pena ser tão teso. O catálogo da exposição, obra em grande formato e com uma impressão de luxo, custava apenas €35. Face à incógnita de não saber quando regressarei a casa, preferi guardar o dinheiro.
A exposição permanente apresenta uma disposição cronológica da obra de Picasso, dando igualmente muita informação biográfica.
Para quem goste deste mestre, este é mesmo um museu a não perder.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O princípio

"Ten women and eight men, all of whom were acquaintances or friends of at least one of the authors, who were known to visit museums regularly, and who were known to naturally do some level of writing were approached and asked to participate. The approach was quite simple usually an email or telephone call explaining the overall MLC mission and the role of the diary study. (...) Each participant was then asked to write a personal description; to agree to visit five museums in the subsequent four to six months; and to write up a diary account of each visit. Any museum was acceptable and any spacing of the visits was acceptable. (...) Finally, some purposes were what we call ‘challenging’ in the sense that the diarist was pressing herself to be expansive; the diarist seemed to sense that there was more to learn in a general way about her immediate environment." http://www.museumlearning.org/mlc-04.pdf

Imagem: Thomas Struth,“Alte Pinakothek, Self-Portrait. Munich”, 2000